O apartamento do Tio João e da Ana Assis: 50 anos se passaram...
- Guilherme Salgado
- 29 de abr. de 2021
- 3 min de leitura

Eu tinha 12 anos, era um sábado de manhã, fui à Academia de Comércio, onde estudava, para uma aula de Educação Física, ou Ginástica, como dizíamos àquela altura. Sou de 1959, com 12, estávamos em 1971.
Combinei com minha mãe de nos encontrarmos na casa do Tio João, irmão do meu avô paterno, Mágino Rocha. Assim mesmo, Mágino. Duvido que algum ou alguma de vocês teve ou tem um avô chamado Mágino, com um belo agudo no Má, para não ficar Magíno, bem semelhante a Imagino, o que não era o caso.
Pois bem.
O Tio João morava no primeiro andar do Edifício Salzer, bem no Centro, entre as ruas Marechal Deodoro e Mister Moore.
O detalhe de ter ido à Ginástica, como se verá, me ajudou sobremaneira.
Cheguei, cumprimentei tios e netos dele, um beijo especial no tio-avô queridíssimo...
Três dos netos – Gema (esta foi demais, Gema, querida Gema... mesma pergunta: quem tem a honra de conviver com uma prima chamada Gema...?!); eu a vi naqueles dias, não me lembro de outra vez... onde está você, prima?, David e uma irmã menor, cujo nome me escapa, estavam me esperando para jogar bola na área do apartamento.
Fomos os quatro brincar.
Daí a pouquinho a bola caiu do outro lado de um muro.
Subi para ver onde ela estava.
Reinava sobre uma claraboia, inalcançável com o pé. Era sobre mesmo...
Os meninos me incentivaram: “Vai, anda aí, não quebra...!”
Já “fortinho”, me atirei sobre a claraboia.
E despenquei lá de cima, uns quatro metros abaixo, caindo na galeria de entrada do prédio.
Imaginem o barulho! Todo mundo ouviu.
Os três primos, apavorados, pálidos, correram para dentro de casa.
Minha querida mãe Conceição, que também tinha ouvido o barulhão, olhou e viu as crianças chegando... Até hoje, ao recordar a cena, afirma que “contou” mentalmente: Gema, David e a terceira prima...
“Gui-lher-me!!!!!!!”
E desceu correndo as escadas, ouviu meu choro...
“Ele está vivo...!!!”
Tremendo de susto, estava agachado, como caíra, uma pequena multidão já se formava para assuntar o que havia acontecido.
Souberam rapidamente o que se passara, dona Conceição chegando...
Mordi a língua e tive um pequeno corte no bumbum, no que me ajudou o calção da Ginástica... Só isso, graças a Deus...!!!
Alguém ofereceu para me levar ao antigo Cotrel, um hospital de acidentados, bem em frente à Santa Casa. Ou seja, estava protegido...
Lembro-me perfeitamente: ela pedia ao motorista para avançar o sinal, pois poderia ter havido comigo um problema interno.
Nada, felizmente...
Daí a 10 minutos, Deus o guarde em seu Infinito Amor, irrompe na sala, ainda com o avental da farmácia, o Diógenes, meu pai, gritando:
- Meu filho...!!! Meu filho...!!!!
Quando me viu, tarimbado, comprovou que nada de grave havia acontecido.
Disse ele que o médico lhe “receitou”:
- O menino está bem, vamos deixá-lo umas horas em observação. Nada grave. Mas é melhor o senhor cuidar da mãe, pois está muito nervosa...!
Passaram-se 50 anos...!
Sonia e eu fazemos parte de um Grupo de Oração, assessorado pelo Frei Betto, ele mesmo, o Betto. E que ajudamos a criar aqui em Juiz de Fora.
São reuniões mensais, agora virtualmente.
Antes da pandemia eram presenciais, cada mês na casa de um dos membros.
Nesse sábado específico, talvez 2019, fomos à casa da Ana Assis, querida amiga e irmã do GO.
Era a primeira vez, havia nos passado o endereço.
Edifício Salzer. O mesmo da queda 50 anos antes...
Subimos ao primeiro andar.
Pois bem: ela morava no mesmo apartamento em que 50 anos antes eu havia caído...!
Coincidência “inesquecível”, não?!
Narrei os detalhes para todo mundo e fui ver o local exato da queda.
Sei que eles trocaram a claraboia, virou uma parede única.
E deu uma boa saudade dos primos e do Tio João. Da queda, não!
Muito boa lembrança! A coincidência é grande mesmo, serviu para você contar a ter o gostinho doce da traquinagem. Leio sempre seus textos. Saudades.
Belo tombo, bela história meu amigo! 😅😅😅
Puxa, Guilherme. Se eu fosse mais jovem e inocente, eu diria "que coincidência!"
Mas, parafraseando a Judith Cortesão, com quem tive a honra e o prazer de trabalhar por alguns anos, "não existem coincidências, somente Providência" - só precisa entender o recado. Nesse e nos demais casos, somente quem está envolvido pode saber que recado é esse... 😉😄
Que reminiscências gostosas, querido. Tenho uma história parecida, de queda do telhado do sítio, aos 9 anos. Caí de costas e tive uma parada respiratória. D. Emília ouviu o barulho surdo e, assim como D. Conceição, gritou, já sabendo, Rogerio!!!!
Acudiu-me, dando vários tapas nas costas. A respiração voltou. Um dia, eu conto o que gostava de fazer no sótão da casa. kkkkkkkk
Excelente, Guilherme! 👏🏾👏🏾👏🏾