Reviveu as alegrias da infância antes de partir
- Guilherme Salgado
- 20 de jan. de 2021
- 2 min de leitura
O espaço de hoje é de Patrícia Pasquini e Sonia Calil. Quando a Sandra morreu, a 7 de janeiro deste ano, Sonia, muito triste e sentida, pensou na possibilidade de um texto de sua autoria sair na coluna Obituário, da Folha. A Patrícia, gentilíssima, nos telefonou dizendo que era norma do jornal não publicar textos de terceiros. E fez um outro, bem parecido com o original. Valem as emoções vividas por ambas, Sandra e Sonia, nestes meses que puderam se reencontrar, via rede social e depois telefone.

Sandra Ângeli Serra Alves Paulino (1964 - 2021) era casada e tinha dois filhos
As lembranças que a advogada Sonia Calil Elias Rocha, 57, guarda da prima Sandra Ângeli Serra Alves Paulino são da época em que era permitido ser inocente.
Sonia e a irmã Simone visitavam com frequência Sandra e os irmãos Éder, Solange, Francisquinho e Silene. As brincadeiras entre os primos aconteciam no quintal de terra da casa de Sandra, no Jardim União (zona leste), que era uma extensão da rua. Não havia portão, medo ou perigo.
O aroma de café com leite a faz recordar da hora do lanche da tarde, quando a bebida quente era servida com o pão do tipo bengala, fresquinha e cheia de margarina.
A infância de Sandra foi paupérrima. Paulistana, era a terceira de cinco filhos. O pai, Francisco, trabalhava como barbeiro e a mãe, Maria, dedicava-se ao lar e às crianças.
Ao contrário da pobreza material, a família tinha união, alegria e amor em abundância.
O tempo passou e as primas perderam o contato por cerca de 25 anos. No período, Sandra fez faculdade de Gestão em RH e conseguiu emprego na área. Em paralelo, dedicou-se ao marido Adilson José Alves Paulino e aos filhos Gabriel e Rafael. Tornou-se mãe do tipo superprotetora.
Em 2021, Sandra e Adilson completariam 31 anos de casados. Um câncer de mama colocou um ponto final na história de Sandra. Ela morreu no dia 7 de janeiro, aos 56 anos, por complicações da doença. Além do marido e filhos, deixa a mãe.
“Lutamos mais pelo arroz e feijão do que pelos afetos”, afirma Sonia.
As duas não tiveram tempo para o último abraço. Sonia, que hoje mora na cidade mineira de Juiz de Fora, conta que um dia, em julho de 2020, acordou com aperto no coração e saudades de Sandra.
Após busca nas redes sociais conseguiu encontrá-la. A pandemia de Covid-19 e a distância permitiram apenas as conversas por telefone e troca de mensagens, que cessaram quando Sandra perdeu a consciência pouco antes de partir.
“Os encontros e a convivência com as pessoas que amamos não podem ficar para depois”, diz Sonia.
“Lutamos mais pelo arroz e feijão do que pelos afetos”, sábias palavras. Ainda bem que estamos vivos para mudar nossas prioridades. Belo texto.